Assistência às pessoas enlutadas por perdas decorrentes da pandemia da COVID-19: ações de matriciamento em saúde mental
Resumo
Estudos mais recentes conceituam o luto como um processo normativo de adaptação às perdas. Quanto aos rituais de despedidas diante de uma perda, observa-se que eles marcam o desenvolvimento e a mudança dos enlutados e a pandemia da covid-19 traz desafios adicionais a este novo cenário. Assim, famílias e indivíduos enlutados, demandam atenção profissional qualificada. A prática do matriciamento como uma ferramenta de trabalho é importante na resolubilidade de casos relacionados à saúde mental, neste caso específico com os Agentes Comunitátios em Saúde (ACS). O presente trabalho teve por objetivo desenvolver ações de matriciamento em Saúde Mental, visando capacitar os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), integrantes das Equipes da Estratégia Saúde da família, para prestarem assistência a indivíduos e famílias enlutadas por perdas decorrentes da covid-19. Para tanto, utilizou-se de uma pesquisa-ação, realização de seminários e acompanhamento às Visitas Domiciliares (VDs), em que luto não autorizado e dificuldades na assistência aos enlutados, luto por suicídio de familiares, perdas de usuário por covid-19 e compreensão de seu papel na Saúde Mental da população foram amplamente discutidos e ressignificados, a partir do desenvolvimento do apoio matricial. Com isso, evidenciou-se, portanto, a importância do matriciamento em Saúde Mental para as equipes da Atenção Básica, bem como a necessidade de maior produção científica na área do luto, especialmente neste momento único de uma pandemia por covid-19, bem como maior espaço para desenvolvimento de ações de matriciamento em saúde mental.
Referências
BAJWAH, S. et al. Managing the supportive care needs of those affected by covid-19. 2020. European Respiratory Journal, United Kingdom, n. 55, p. 2000815, 2020.
BORNSTEIN, V. J. Curso de Aperfeiçoamento em Educação Popular em Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz EPSJV, 2016. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br. Acesso em: 17 ago. 2021.
BOWLBY, J. The making and breaking of affectional bonds: I. Aetiology and psychopathology in the light of attachment theory. The British journal of psychiatry, United Kingdom, v. 130, n. 3, p. 201–210, 1977a.
BOWLBY, J. The making and breaking of affectional bonds: II. Some principles of psychotherapy: The Fiftieth Maudsley Lecture (expanded version). The British Journal of Psychiatry, United Kingdom, v. 130, n. 5, p. 421–431, 1977b.
BRASIL. Ministério da Saúde. Covid-19 no Brasil, 2022. Disponível em: https://covid.saude.gov.br/. Acesso em: 12 jan. 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Brasília: Ministério da Saúde-Secretaria Executiva, 2001.
BRASIL. Portaria nº 2.346 de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 21 set. 2017.Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html. Acesso em: 17 ago. 2021.
CHIAVERINI, D. H. (org.) et al. Guia prático de matriciamento em saúde mental. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: https://repositorio.observatoriodocuidado.org/bitstream/handle/handle/581/Guia%20pr%C3%A1tico%20de%20matriciamento%20em%20sa%C3%BAde%20mental.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 24 jan. 2021.
COGO, A. S. et al. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: processo de luto no contexto da COVID-19. Rio de Janeiro: Fiocruz: Cepedes, 2020. Cartilha. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/42350. Acesso em: 29 maio 2021.
COSTA, S. de M. et al. Agente Comunitário de Saúde: elemento nuclear das ações em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 7, p. 2147–2156, 2013.
COSTA, N. de R. et al. Os agentes comunitários de saúde e a pandemia da covid-19 nas favelas do Brasil. Fiocruz: Observatório covid-19, 2020. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/os_agentes_comunitarios_de_saude_e_a_pandemia_da_covid-19_nas_favelas_do_brasil.pdf. Acesso em: 17 ago. 2021.
DANTAS, C. de R. et al. O luto nos tempos da COVID-19: desafios do cuidado durante a pandemia. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. 23, n. 3, p. 509–533, 2020.
FAGUNDES, G. S.; CAMPOS, M. R.; FORTES, S. L. C. L. Matriciamento em Saúde Mental: análise do cuidado às pessoas em sofrimento psíquico na Atenção Básica. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 26, n. 6, p. 2311–2322, 2021.
FERGUSON, N. et al. Report 9: Impact of non-pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID19 mortality and healthcare demand. Imperial College London, United Kingdom, v. 10, n. 77482, p. 491–497, 2020.
FRANCO, M. H. P. Luto como experiência vital. In: FRANCO, M. H. P. Cuidados paliativos: discutindo a vida, a morte e o morrer. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 2009.
FRANCO, M. H. P. Por que estudar o luto na atualidade?. In: FRANCO, M. H. P. (org.). Formação e rompimento de vínculos. São Paulo: Summus, 2010. p. 17–42.
GAZIGNATO, E. C. da S.; SILVA, C. R. C. Saúde mental na atenção básica: o trabalho em rede e o matriciamento em saúde mental na Estratégia de Saúde da Família. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 38, p. 296–304, 2014.
GONÇALVES, V. L. M.; LEITE, M. M. J.; CIAMPONE, M. H. T. A pesquisa-ação como método para reconstrução de um processo de avaliação de desempenho. Cogitare Enfermagem, Curitiba, v. 9, n. 1, 2004.
GURGEL, A. L. L. G. et al. Cuidado em saúde mental na estratégia saúde da família: a experiência do apoio matricial [Mental health care in the family health strategy: the experience of matrix support]. Revista Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 25, p. 7101, 2017.
HIRDES, A. Apoio Matricial em saúde mental: a perspectiva dos especialistas sobre o processo de trabalho. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 42, p. 656–668, 2018.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo de Pinhais de 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/pinhais/panorama. Acesso em: 17 ago. 2021.
IGLESIAS, A.; AVELLAR, L. Z. Matriciamento em Saúde Mental: práticas e concepções trazidas por equipes de referência, matriciadores e gestores. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 24, p. 1247–1254, 2019.
KLEIN, A. P.; D’OLIVEIRA, A. F. P. L. O “cabo de força” da assistência: concepção e prática de psicólogos sobre o Apoio Matricial no Núcleo de Apoio à Saúde da Família. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 33, n. 1, 2017.
LIMA, M.; DIMENSTEIN, M. O apoio matricial em saúde mental: uma ferramenta apoiadora da atenção à crise. Interface (Botucatu), v. 20, n. 58, p. 625–635, 2016.
LISBOA, M. L.; CREPALDI, M. A. Ritual de despedida em familiares de pacientes com prognóstico reservado. Paidéia (Ribeirão Preto), [s. l.], v. 13, n. 25, p. 97–109, 2003.
MACIEL, F. B. M. et al. Agente Comunitário de saúde: reflexões sobre o processo de trabalho em saúde em tempos de pandemia do covid-19. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n. 25, p. 4185–4195, 2020.
OLIVEIRA, A. B. de et al. Contribuições do Apoio Matricial em Saúde Mental na Atenção Primária: Revisão Integrativa da Literatura. ID on-line Revista de Psicologia, Jaboatão dos Guararapes, v. 12, n. 41, p. 1033–1047, 2018.
PARKES, C. M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. São Paulo: Summus editorial, 1998.
PATTISON, N. End-of-life decisions and care in the midst of a global coronavirus (COVID-19) pandemic. Intensive & critical care nursing, [s. l.], v. 58, p. 102862, 2020.
PREFEITURA DE PINHAIS. Painel covid-19 Pinhais: casos confirmados e óbitos por bairro. 2021. Instagram: Prefeitura de Pinhais. Disponível em: https://www.instagram.com/prefeituradepinhais/. Acesso em: 17 ago. 2021.
PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. de. Metodologia do trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Editora Feevale, 2013. Disponível em: http://www.feevale.br/Comum/midias/8807f05a-14d0-4d5b-b1ad-1538f3aef538/E-book%20Metodologia%20do%20Trabalho%20Cientifico.pdf. Acesso em: 11 ago. 2021.
RODRIGUES, D. C. et al. Educação permanente e apoio matricial na atenção primária à saúde: cotidiano da saúde da família. Rev. Bras. de Enfermagem, [s. l.], n. 73, v. 6, p. 1–8, 2020.
SANTOS, A. M.; CUNHA, A. L. A.; CERQUEIRA, P. O matriciamento em saúde mental como dispositivo para a formação e gestão do cuidado em saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 30, 2020.
SANTOS, R. A. B. de G. dos; UCHÔA-FIGUEIREDO, L. da R; LIMA, L. C. Apoio matricial e ações na atenção primária: experiência de profissionais de ESF e NASF. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v. 41, p. 694–706, 2017.
SILVA, J. C e et al. Pesquisa-ação: concepções e aplicabilidade nos estudos em enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, [s. l.], v. 64, n. 3, p. 592–595, 2010.
SILVEIRA, J. et al. O luto nas diferentes etapas do desenvolvimento humano. In: COSTA, E. F. Psicologia em Foco: temas contemporâneos. 1. ed. São Paulo: Editora científica, 2020. p. 175–188. Disponível em: https://downloads.editoracientifica.org/articles/200700788.pdf. Acesso em: 12 jan. 2022.
TAYLOR, S. The psychology of pandemics: Preparing for the next global outbreak of infectious disease. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2019.
TORRE, B. A. P. de La. O luto e a família. 2020. Dissertação (Mestrado em Ciências Aplicadas em Saúde) – Universidade de Vassouras, Vassouras, Rio de Janeiro, 2020.
TREVISANO, R. G.; ALMEIDA, J. V. de; BARRETO, C. A. O olhar da enfermagem no processo de luto. Revista Saúde em Foco, Teresina, n. 11, p. 574–587, 2019. Disponível em: https://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2019/05/052_O-OLHAR-DA-ENFERMAGEM-NO-PROCESSO-DE-LUTO.pdf. Acesso em: 23 jan. 2022.
VICTOR, G. S.; AHMED, S. The importance of culture in managing mental health response to pandemics. In: VICTOR, G. S.; AHMED, S. Psychiatry of Pandemics: A Mental Health Response to Infection Outbreak. [S. l.]: Springer, 2019. p. 55–64.
WALLACE, C. L. et al. Grief during the COVID-19 pandemic: considerations for palliative care providers. Journal of pain and symptom management, [s. l.], v. 60, n. 1, p. 70–76, 2020.
WALSH, F. Morte na família: sobrevivendo as perdas. Porto Alegre: Artmed, 1998.
WEIR, K. Grief and COVID-19: mourning our bygone lives. American Psychological Association, Apr. 2020. Disponível em: https://www.apa.org/news/apa/2020/grief-covid-19. Acesso em: 11 ago. 2021.
WORDEN, J. W. Aconselhamento do luto e terapia do luto: um manual para profissionais da saúde mental. São Paulo: Roca, 2013.
WORDEN, J. W. et al. Grief counseling and grief therapy: A handbook for the mental health practitioner. New York: Springer Publishing Company, 2018.
This work is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International License.