Cuidado compartilhado na rede de atenção psicossocial do município de Pinhais: articulações possíveis entre a unidade de saúde da família tarumã e o centro de atenção psicossocial regional I
Resumo
A Reforma Psiquiátrica provocou importantes transformações no cuidado em saúde
mental, no que diz respeito às práticas, saberes e na busca por um novo lugar social
para a loucura. Orientado pela perspectiva de Atenção Psicossocial, defende-se que
o cuidado deve acontecer, prioritariamente, no território, a partir de uma rede
integrada, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Para um cuidado no território
que seja integral, longitudinal e com participação dos sujeitos, faz-se fundamental a
articulação entre os pontos de atenção da RAPS em conjunto com a rede
intersetorial de políticas públicas. A partir da inserção da pesquisadora enquanto
residente em cenários de prática no município de Pinhais, identificou-se fragilidades
no cuidado compartilhado aos usuários, entre a Unidade de Saúde da Família
Tarumã e o Centro de Atenção Psicossocial Regional I, refletindo na atenção à
saúde para aqueles que em algum momento da vida estiveram em
acompanhamento no CAPS. Dessa forma, foi proposta esta intervenção com o
objetivo de contribuir para o processo de construção coletiva de estratégias para
promover o cuidado compartilhado entre a USF Tarumã e o CAPS Regional I, no
município de Pinhais. Nesse sentido, foi enviado questionário às equipes a fim de
compreender como as(os) trabalhadoras(es) entendem o cuidado em saúde mental,
e os desafios e potencialidades identificados na articulação da RAPS, com enfoque
na relação entre Atenção Primária à Saúde e CAPS. As respostas orientaram os
debates nos encontros coletivos. Assim, foram realizados dois encontros entre
os(as) trabalhadores(as) dos referidos serviços e um encontro com as respectivas
coordenadoras. Enquanto desdobramentos desta intervenção, menciona-se a
aproximação entre as equipes, a construção de planilha compartilhada para o
acompanhamento aos usuários, e construção de agenda compartilhada com
previsão de espaço mensal para discussão de casos, e abertura para construção
conjunta do Projeto Terapêutico Singular (PTS) dos(as) usuários(as). Criar espaços
de discussão coletivas entre os serviços é parte fundamental de um trabalho que se
propõe acontecer em rede, no entanto, não garante que as práticas e discussões
sejam orientadas pela perspectiva de Atenção Psicossocial, sendo fundamental
trazer a reflexão ética e política sobre o que orienta a prática no cotidiano de
atuações nos serviços. A produção de saúde é possível quando o cuidado é
centrado no sujeito e os sentidos e significados em perspectiva viabilizam a
construção de Projetos Terapêuticos Singulares que contribuam para a promoção da
cidadania, autonomia, produzindo vida no território. E práticas assim só são
possíveis a partir do reconhecimento das pessoas enquanto sujeitos de direitos, com
voz e com possibilidades de criar novas formas de viver.
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