Análise do padrão de prescrição de psicofármacos antes e durante a pandemia pelo novo coronavírus no município de Pinhais
Resumo
Este trabalho teve como objetivo central analisar o padrão de prescrição de psicofármacos antes e durante a pandemia pelo novo coronavírus nas Unidades de Saúde da Família no município de Pinhais-PR. Trata-se de um estudo farmacoepidemiológico retrospectivo a partir da coleta de dados secundários sobre a prescrição de psicofármacos das 11 Unidades de Saúde da Família no município de Pinhais, Paraná, do ano de 2018 a 2020. Utilizou-se sistemas de informática WinSaúde e o IDS Saúde para acessar informações referentes a: prescrição, sexo, princípio ativo, Unidade Saúde da Família e ano. Os resultados apontam que a quantidade de unidades prescritas de psicofármacos nos três anos é alta, próximas de 3 milhões de comprimidos e cápsulas por ano. Este fato representa ser até 24 vezes superior a prescrição de psicofármacos comparado ao tamanho da população. A média de prescrição de antidepressivos nos três anos foi de 53,7%, o que representa mais da metade de todas as unidades prescritas, tanto antes como depois da pandemia pelo novo coronavírus. A fluoxetina foi o medicamento mais prescrito durante os anos analisados. Houve um aumento das prescrições de psicofármacos durante a pandemia da Covid-19, sobretudo dos psicolépticos carbonato de lítio (30%) e risperidona (19%). Considera-se que identificar o padrão de prescrição e de consumo de psicofármacos na atenção primária à saúde (APS) pode contribuir para traçar uma linha de cuidado no âmbito da saúde mental durante e após a pandemia da Covid-19, uma vez que grande parte dos usuários com transtornos mentais e em sofrimento psíquico deveriam ser acompanhados pela APS.
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